Dependência Química - O desejo do outro

INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo geral verificar de que maneira a
compreensão das necessidades do ser humano, pode refletir ou contribuir para ele não
se tornar um dependente químico, e objetivos específicos: Analisar a dependência
química apresentando soluções para que a pessoa dependente, deixe a dependência.
Demonstrar que dependentes, necessitam de atenção especial.
Visando fazer um estudo sob a questão ligada ao uso de drogas, lícitas ou
ilícitas, vê-se que o ser humano sempre utilizou substâncias químicas no decorrer da
história. Desde os primórdios quando se reuniram em civilização e passaram a cultivar
grãos, aprenderam que com a fermentação do pão, se produzia a cerveja, neste interim
também descobriu-se a produção do vinho, e já se fazia o uso de maconha, há muito
tempo.
Outrora, o uso das drogas principalmente o do álcool estava presente em quase
todas as espécies de bebidas, como vinho, cerveja e destilados, eram feitos por grupos
restritos com fins recreativos, com o passar do tempo e a descoberta de várias outras
espécies de drogas, o seu uso passou a ser indiscriminado e por qualquer um, em
qualquer dia.
O ser humano como outras espécies surge através de uma relação sexual, onde
ocorre pelo menos um orgasmo, oportunidade em que milhões de espermatozoides
saem em busca do encontro de um óvulo, e uma vez unidos surge o embrião, ocorrida
a fecundação forma-se o ser, fruto de uma relação de prazer, talvez venha daí a origem
do termo: “pecado original”, o novo ser, traz consigo a lembrança desse prazer inicial,
bem como o desejo de repeti-lo, sem ter essa consciência, vive-se então em busca
do repetir o primeiro gozo, embora não se tenha conhecimento de qual gozo se busca.
Ao nascer terá pela frente apenas uma certeza, a de que vai morrer, ou seja, nascendo
terá sempre em seu horizonte, o fim. Os humanos talvez sejam os que mais se
preocupem com esse fato, deixando de vivenciarem o caminho que vai do nascer ao
morrer, vivendo no temor do fim, que pode estar próximo, ou distante.
Na busca de não se fixar no fim, real à frente, procura-se desvios das rotas,
dobra-se à direita, à esquerda, em certas oportunidades vislumbra-se as estrelas, em
outras, o sol, e as vezes a lua, mas, de volta à rota, o fim está lá na frente. Nessa fuga
da realidade, vai-se sem busca de amizades, festas, viagens, e alguns sonhos, que
passam a ser o objeto do gozo do sujeito, pois toda vez que ele não estiver focado
nesse objeto, terá à sua frente o fim como seu destino.
O sujeito encontra gozo no espelho dos olhos dos outros, o viver não tem graça
se feito só para si, sempre se espera que alguém o veja, o perceba, o identifique, cada
ser assimila de formas diferentes esta visão do outro, uns escolhem ser notados por
pessoas de nível superior, outros, não fazem esta seleção vão em busca de apenas
um elogio, não necessitando se falso ou verdadeiro, precisam ser vistos, nesse caso
seu objeto de desejo estará satisfeito naquele momento, qual seria a razão de se
postar uma foto na rede social, se não for no sentido de ser visto, ou até causar ciúmes,
qual o motivo se tem para escrever um artigo, um livro, fazer um filme, se não for com
o objetivo de que o outro veja, e quão decepcionante quando o outro apenas critica o
trabalho realizado. Na sociedade neurótica em que se vive onde o capitalismo
aproveitou-se dessa situação, em que o objeto do desejo está em poder do outro,
condiciona-se o encontro da felicidade no ter, quando se tiver isso ou aquilo, se
encontra a felicidade, consegue-se então o objeto, mas, não a felicidade. Vive-se na
realidade platônica, de que a felicidade está na busca do que não tenho, esquecendose da realidade de Aristóteles, de que a felicidade está naquilo que tenho.
Se observamos a natureza, vamos notar que tudo que nela existe, existe em
permanente competição, competição esta que ocorre desde a fecundação, pela busca de
um melhor lugar ao sol, porém, na atualidade a sociedade tentou implantar o conceito de
que todos são iguais, chegando-se ao absurdo de se pregar nas escolas que em uma
disputa em jogos, não se deve haver um vencedor, mas, sim que a disputa deve terminar
em empate, ao agir dessa forma se tira do indivíduo a perspectiva de lutar para buscar
algo, tentando se implantar nele, a ideia de estar feliz com o que tem, mas, ele não está
feliz, lhe falta algo, talvez busque encontrar o gozo inicial, talvez queira buscar o objeto
que não tenha, e nessa indecisão acaba indo buscar o conforto no uso de alguma
substância química. Assim, tem-se que buscar o equilíbrio entre ser feliz pelo o que tenho,
mas, também, sou feliz pelo o que não tenho e vou em busca desse objeto.
Para um melhor tratamento dos objetivos e melhor apreciação desta pesquisa,
observou-se que ela é classificada como pesquisa exploratória detectou-se também a
necessidade da pesquisa bibliográfica no momento em que se fez uso de materiais já
elaborados: livros, artigos científicos, revistas, documentos eletrônicos e enciclopédias na
busca e alocação de conhecimento sobre ao existir, ser lembrado e ser útil,
correlacionando tal conhecimento com abordagens já trabalhadas por outros autores.
A pesquisa assume como pesquisa bibliográfica, sendo qualitativa, por sua vez,
proporcionara maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou construindo
hipóteses sobre ele através de levantamento bibliográfico. Por ser um tipo de pesquisa
muito específica, quase sempre ela assume a forma de um estudo de caso.
Como procedimentos, podemos citar a necessidade de pesquisa bibliográfica, isso
porque faremos uso de material já publicado, constituído principalmente de livros, também
entendemos como um procedimento importante a pesquisa bibliográfica como
procedimento técnico.
A abordagem do tratamento da coleta de dados da pesquisa é bibliográfica e será
qualitativa, pois busca fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos e
atribuição de significados.
O problema foi direcionando a pesquisa para as áreas de: dependência química e
a pesquisa como: pesquisa bibliográfica, sendo esta com a compreensão de que o ser
humano, necessita existir pra si e para os demais.

1 AS DIFERENTES DROGAS E SUAS HISTÓRIAS:
1.1 A MACONHA
Segundo Diehl & Cordeiro (2005), a maconha é uma das plantas que tem o
cultivo feito pelo homem, há mais de 6 mil anos, para obtenção de fibras, os chineses
a utilizavam como medicamento há 2.700 anos antes de Cristo, seus grãos também
eram e são utilizados até os dias de hoje como alimento, para a extração de óleo
comestível no Nepal. Seus efeitos psicoativos são conhecidos na farmacopeia
chinesa. No decorrer da história em diferentes culturas a maconha tem sido utilizada
como fornecedora de fibras, como alimento, propósitos religiosos ou recreativos e
também como medicamento. Dependendo da época e do segmento da população, seu
uso é estimulado ou condenado. No final do século XIX e início do século XX, seus
extratos foram comercializados por laboratórios farmacêuticos com inúmeras
recomendações, como sendo um sedativo, analgésico, anti-inflamatório, estimulante
do apetite e outros.
Até meados do século passado, relatam Diehl & Cordeiro (2005) a maconha
tinha seu uso com propósitos recreativos, restrito a grupos isolados, dentre eles,
intelectuais europeus, imigrantes negros e hispânicos na América do Norte e grupos
de negros rurais e de baixa renda no Brasil, a partir daí o seu uso recreativo teve uma
expansão entre os jovens de todo o ocidente. Nos EUA, a porcentagem de adultos
usuários saltou de 5% em 1.967, para 68% nos anos de 1.980, fato este que se
mantém até os dias de hoje, sendo a droga ilícita mais usada em muitos países
desenvolvidos.
1.2 A CERVEJA
A cerveja é uma bebida consumida popularmente no Oriente Médio há 4.000 anos
antes de Cristo, conforme Diehl & Cordeiro (2005) quando já existiam cerca de 20 tipos
da bebida, consumiam-se usando canudos em recipiente compartilhados. Era
considerada um presente dos Deuses para os Egípcios, usada em cerimônias religiosas,
funerais e rituais de fertilidade.

Comentam, Diehl & Cordeiro (2005) que o pão e a cerveja eram um cumprimento
diário, e significava prosperidade e bem-estar, seu uso medicinal foi registrado em 2.100
ac. Os seres humanos que sempre viviam nas proximidades de fontes de água doce, rios
ou lagos, vez que não dispunham de meios para o armazenamento da água, há cerca de
dez milênios, na Mesopotâmia, atual Iraque, desenvolveram uma tecnologia de cultivo de
grãos, época em que coincide com a fixação do homem formando bandos e
comunidades, dando início à agricultura. Iniciava-se aí a civilização, termo que no grego
significa “vivendo em cidades”, os grãos cultivados podiam ser armazenados, e uma vez
molhados, podiam ser consumidos, desse mingau de cereais, descobriu-se como fazer o
pão que foi aos poucos se tornando a base da nova alimentação que já não dependia
tanto da caça e da coleta de frutos.
Evidências recentes demonstram que o pão já era consumido há mais tempo,
cerca de 14 milênios, antes mesmo do início da agricultura. Ao mesmo tempo, a
fermentação do mingau causou a descoberta da cerveja. (DIEHL & CORDEIRO, 2.001)
1.3 O VINHO
Contam, Diehl & Cordeiro (2005), que o vinho surgiu entre 9.000 e 4.000 anos
antes de Cristo, entre a Armênia e o atual Irã, cerca de 3.150 anos antes de Cristo, os
faraós Egípcios já eram enterrados carregando seu vinho. As elites bebiam vinho, as
massas cerveja. O vinho popularizou-se após a cerveja.
Por volta do ano 870 AC, o rei dos Assírios inaugurou a nova capital, “Nimrud”,
com um banquete para 70.000 pessoas cuja festa perdurou por dez dias, foram
servidos 10 mil jarros de vinho e dez mil de cervejas. Foi na Grécia que o amor pelo
vinho se desenvolveu, onde as festas formais, denominadas de Symponsia eram
regadas a vinho, que era diluído em água, no costume grego, para que todos ficassem
no limiar entre o sóbrio e o embriagado. (DIEHL & CORDEIRO, 2.001)
1.4 OS DESTILADOS
A Europa enfrentava o fracasso do império Romano, passando por um período
sombrio, a Península Ibérica, no entanto apresentava intenso desenvolvimento, os
árabes que a dominavam haviam levado o sistema numérico, a álgebra, a bússola
magnética, o uso das ervas e o processo de destilação.
Conforme (DIEHL & CORDEIRO, 2.001) palavra alambique ou “al. ambique”
no árabe referia-se ao vaso usado para a destilação. Michael Salrno, alquimista, no
século XII, percebeu que o produto da destilação era um líquido inflamável, daí veio a
derivar-se o nome dos primeiros destilados, “aqua ardens”, para nós “água ardente”
bebidas estas que no século xv, até então utilizadas como medicinais, passaram a uso
recreativo. Contribuíram também os árabes no cultivo da cana de açúcar,
desconhecida dos europeus.
A cana cultivada por escravos nas Ilhas Atlantis, deu origem a outro destilado
importante, o rum, que era produzido com os resíduos da produção do açúcar, que
logo tornou-se moeda de troca nas transações de escravos, e foi levado ao novo
mundo, onde rapidamente popularizou-se, graças ao preço irrisório, a palavra “Run”
deriva de “Rumbilião”, gíria Inglesa, para briga ou comoção violenta, foi assim que o
novo destilado passou a ser chamado em Barbados, no século XVII. Os americanos
ricos o bebiam na forma de ponches, precursor dos coquetéis, enquanto que os pobres
o bebiam puro (DIEHL & CORDEIRO, 2.001).
1.5 O CAFÉ
No Iêmen, norte da África, no decorrer do século XV, o café passou a ser
consumido como um estimulante. Os árabes haviam encontrado um substituo ao álcool,
os cafés públicos árabes se tornaram lugar onde homens discutiam política e faziam
sátiras, intrigas e boatos (DIEHL & CORDEIRO, 2.001).
2- O USODAS DROGAS
2.1 DA PERSPECTIVA MÉDICA
Falando-se no uso de substâncias psicoativas segundo Migott (2007) trata-se de
um evento que não é novo na humanidade, mas, sim uma prática milenar e universal,
não sendo um fenômeno exclusivo desse momento. Podemos afirmar que a história da
dependência de drogas se confunde com a história da humanidade, ou seja o consumo
de drogas sempre existiu, desde as épocas mais antigas e em todas as culturas e
religiões, com finalidades específicas, pelo fato de que o homem sempre buscou através
dos tempos maneiras de aumentar o seu prazer e diminuir seu sofrimento.
Para Migott (2007) é importante ressaltar que os hábitos e costumes de cada
sociedade é que direcionavam o uso de drogas em cerimônias coletivas, rituais e festas,
esses consumos estavam restritos a pequenos grupos, fato este que apresentou
alterações nos momentos atuais, vez que na atualidade verifica-se o uso dessas
substâncias em quaisquer circunstâncias e por diferentes grupos e realidades.
A dependência química é definida pela 10ª edição da Classificação Internacional de
Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), como um conjunto de
fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso
repetido de determinada substância.
A dependência pode ser a respeito de uma substância psicoativa específica (por
exemplo, o fumo, o álcool ou a cocaína), a uma categoria de substâncias psicoativas (por
exemplo, substâncias opiáceas) ou a um conjunto mais vasto de substâncias
farmacologicamente diferentes. A dependência química, para a medicina, é vista e
tratada como uma doença crônica e multifatorial, significando que diversos fatores
contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso da
substância, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e
ambientais.
Vários estudos tentam identificar as características que predispõem o indivíduo a
um maior risco de fazer uso ou tornar-se um dependente, levando-se em consideração o
uso do álcool por exemplo, estima-se que os fatores genéticos expliquem cerca da
metade das vulnerabilidades, que fazem com que o indivíduo faça o seu uso em excesso,
possivelmente sejam responsáveis os genes do metabolismo do álcool, ou a sensibilidade aos seus efeitos, sendo que filhos de alcoólatras possuem quatro vezes
mais riscos de desenvolverem o alcoolismo, mesmo quando criados por indivíduos não
alcoólatras.
Para Migott (2007) além disso, fatores individuas e aspectos do beber, fazem que
mulheres, jovens e idosos sejam mais vulneráveis aos efeitos de bebidas alcoólicas, fator
este que os coloca em maior risco de desenvolvimento da dependência.
2.2 DA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA
O que especifica o uso de drogas como toxicomania? Em primeiro lugar,
diante do objeto com o qual está estabelecido o vínculo de prazer, o sujeito
toxicômano mostra-se impotente quanto à possibilidade de administrar seu
uso. Na presença do objeto-droga, o toxicômano se defronta com sua
incapacidade de pensar, reagindo com uma ação compulsiva, correspondente
de uma tensão que parece ser vivenciada como impossível de baixar por
outros meios. Parecendo ser comandado pelo objeto, o indivíduo fracassa,
sobretudo, quanto à capacidade de utilizar a linguagem e o pensamento como
meios de ponderação e de dar significação ao impulso desencadeado. Assim,
a falta de prazer pode reaparecer logo após o alívio da tensão proporcionado
pelo uso da droga. Sua ingestão demonstra, na prática, ser pouco eficaz para
fazer frente às necessidades e desejos que o sujeito busca resolver por meio
da utilização compulsiva. Diante dessa falta de prazer, e também por causa
dela, o ciclo compulsivo recomeça. (SANTOS, COSTA-ROSA, 2.007)
Para, Santos, Costa Rosa (2007), na psicanalise encontramos diversas
modalidades de espécies de gozo, dependendo de como se dá a entrada do sujeito
no simbólico, dessas maneiras de gozo, destacam-se duas. A modalidade de gozo do
Outro, onde devemos entender que o gozo designa o próprio corpo, essa forma de
gozo não passa pela linguagem, ou seja, trata-se de um gozo sem a mediação do
simbólico. Essa forma é vivenciada como um acontecimento que suprime a palavra e
retira a possibilidade de simbolização que é experimentado como falta.
Conforme Santos, Costa Rosa (2007) somente o objeto “Droga” é reconhecido
como complemento necessário, criando um ciclo que perpetua a crença no gozo obtido
apenas diretamente no próprio corpo. Pelo fato de não passar pelo simbólico, podemos
então dizer que o corpo em ação nesse caso, é o corpo do “corpotodo”, objeto de um
“gozo todo”, (não localizado e não simbolizado). O gozo do corpo, nesse caso
chamado de gozo da droga, parece estar relacionado com o retorno real da fantasiosa experiência primordial do gozo, que permaneceu até o momento do primeiro uso,
marcado na memória não simbolizada para o futuro toxicômano.
Destaca Santos, Costa Rosa (2007) também a modalidade que a psicanálise
denomina como gozo fálico, aquele que é ligado com a linguagem, onde ocorre a
mediação do simbólico, um gozo acessível ao sujeito como se estivesse localizado em
partes do corpo, manifesta-se também como gozo da palavra e da linguagem, essa
espécie necessita de uma cifragem, a simbolização do gozo corporal pelo significante
através dos traços da memória das experiências cruciais constitutivas do aparelho
psíquico. O gozo fálico por estar diretamente ligado aos ideais socioculturais, tem uma
modalidade de constituição subjetiva por recalcamento, manifesta-se também, nas
formações inconscientes do sujeito.
Analisadas essas duas modalidades de gozo, Santos, Costa Rosa (2007) diz
que podemos entender a hipótese da toxicomania como uma forma de relação com o
gozo, onde fantasiosamente se reporia o gozo imediato e total, que se tivesse passado
pelo universo da linguagem, teria sido expropriado, vindo daí que tal gozo seja
fortemente marcado com as características do gozo do Outro, ou seja, o gozo do corpo
onde o sujeito evita a intermediação da linguagem, só lhe interessa gozar, causando
um curto circuito do simbólico.
Quando falamos do toxicômano falamos de uma figura de gozo que não se
submete aos valores ditos fálicos, Santos, Costa Rosa (2007) relatam que definem o
gozo generalizado da nossa civilização (Gozo Sexual, sublimado na relação com a
procriação, o trabalho e a cultura). O toxicômano então, é visto como um sujeito
dominado pelo seu gozo, o gozo do corpo todo, mais radical e compulsivo que o gozo
do consumista, do viciado em azar e outras formas de jogos. O toxicômano então é
aquele sujeito que tenta através da droga, fugir das regras impostas pelos ideais
sociais, também, ditos fálicos, com um gozo do corpo que se não for intermediado pela
ação da linguagem e através da simbolização dos limites, só será limitado pela morte.
O modo comum de relação com o gozo típico do sintoma na toxicomania, (gozo fálico),
é suprimido, causando um vazio quanto à capacidade desejante.

Segundo Santos, Costa Rosa (2007) o sujeito está sob o domínio do gozo do
outro de uma forma de convulsão ou espasmo agudo, gozo mortífero vivenciado como
necessidade radical, podendo só ser preenchido pela droga como objeto concreto.
Assim para o toxicômano, a droga substitui o sintoma, propiciando ao sujeito o acesso
ao gozo direto, não passando pelo sentido simbólico, nessa experiência com a droga,
o toxicômano funciona no registro do real imaginário, evidenciando uma forma de gozo
direto no próprio corpo, e em outro lado na repetição desnecessária, como a sua
identidade “sou toxicômano”, seus relatos em relação a abstinência demonstram a
angustia que preside esse modo de solução psíquica em relação ao objeto.
Dessa forma, conforme Santos, Costa Rosa (2007) é fundamental a
contribuição da psicanálise para a compreensão da toxicomania e para a realização
do tratamento, vez que está fora do princípio médico “doença- cura”, quando propõe
ao toxicômano um caminho que lhe permita restaurar a divisão subjetiva incidindo
diretamente em uma das importantes características psíquica, vez que o toxicômano
entende que só ele detém o saber da experiência de drogar-se, não demonstrando
nenhum interesse sobre os outros gozos, e desse ninguém sabe mais que ele próprio.
O toxicômano insiste em só representar-se como ser, no lugar do indivíduo,
Santos, Costa Rosa (2007), ausente da performance desejante, suposta pela divisão
subjetiva, como sendo um “eu”, fazendo de seu corpo um lugar da experiência e do
prazer. Essa experiência é tão singular, que ele persiste em que só ele, e mais
ninguém sabe o que acontece. Nesse contexto não se tem o que discordar, e a
psicanálise visa estabelecer uma relação intersubjetiva, um novo laço social, capaz de
transitar da experiência da droga para a experiência do sujeito, buscando uma forma
de introduzi-lo na linguagem, no gozo do significante, com a possibilidade de
demandas trazidas, possam ser ciados por ele novos sentidos para o ato de drogarse, esperando-se que através disto, o sujeito possa conduzir-se à via do desejo,
criando uma nova relação com formas do gozo que suportem intermediação, a espera
e a diversificação, trabalhando-se a hipótese de que a oferta da escuta, dando a
palavra ao sujeito, fazendo com que a passagem pela intermediação significante da
linguagem funcione como uma espécie de exercício no registro de gozo capaz de competir com o gozo da droga. Espera-se acrescentar que nessa relação do sujeito
com o significante, encontre-se uma espécie de cifragem do gozo corporal pela
linguagem, permitindo lidar com os impulsos de usar drogas, de modo a poder
responder a eles atenuando a compulsão. Ficando então implícito ao sujeito a ideia de
que há gozo, na produção de sentido novo, e que essa experiência subjetiva possa
funcionar como desencadeadora de outras na mesma direção. Dessa forma, ao
contrário da medicina e da psiquiatria que colocam a toxicomania como doença, a
psicanálise faz outra leitura, entendendo que se trata de um fenômeno complexo, cuja
dimensão psíquica pode inscrever-se de modo contingente na vida cotidiana dos
indivíduos, sendo passível de reversão.
Retomando nosso objetivo de circunscrever teoricamente a toxicomania,
acrescentamos que numa determinada vertente da psicanálise diz-se que ela
não é uma estrutura porque não recorre ao registro do simbólico; não é um
sintoma, porque rompe com o gozo fálico, e não pode ser reduzida a uma
perversão porque não é mediada pela fantasia (Laurent 1995). Ao pensarmos
a estruturação subjetiva do ponto de vista freudiano e lacaniano, é possível
afirmar genericamente que o toxicômano é um sujeito cuja modalidade de
constituição está no âmbito da renegação/Verleugnung (Freud, 1927). Outras
vezes ainda se fala em estatuto perverso, só que estruturalmente mais
precário, na medida em que ficou prejudicado por não ter o recurso da fantasia
como intermediador na relação com o objeto de gozo. Nos sujeitos da
renegação em geral, o recurso psíquico da fantasia parece funcionar como
pacificador de gozo, ao passo que no toxicômano a falta dela marca uma
relação com a droga que o leva a um gozo encarniçado, beirando o mortífero
(SANTOS, COSTA-ROSA, 2.007).
Diferente então do que propõe a medicina, de que a toxicomania seria uma
doença, e como tal, deveria ser tratada com medicamentos, curando-se o sintoma,
para a psicanálise o problema está localizado no subjetivo do sujeito, talvez pelo fato
de não ter encontrado seu espaço no meio social onde vive, muitas vezes em virtude
dessa modernidade líquida, onde cada qual age de acordo com sua moral, que
também é liquida, cabendo em qualquer lugar e amoldando-se à qualquer forma, onde
se dificulta para uns, em benefícios de outros, o sujeito fugindo dessa farsa em muitas
oportunidades, acaba adentrando ao campo do uso de drogas lícitas ou ilícitas, e a
partir do momento em que o desejo do “outro”, imperar nele, raramente será curado,
quer pela medicina, quer pela psicanálise.
A medicina não ira curá-lo pelo fato que não existe medicamento para tal, a
psicanálise raramente irá curá-lo por diversos fatores, um deles que poderá ter
ocorrido é que o uso das drogas lhe afetou capacidade de entendimento, neurônios
destruídos jamais serão repostos, em outras oportunidades, dependeria da
capacidade do analista, em conseguir implantar no sujeito a capacidade de desejar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na busca de encontrar resposta ao objetivo principal desse trabalho: “de que
maneira a compreensão das necessidades do ser humano, pode refletir ou contribuir
para ele não se tornar um dependente químico”, nos foi possível verificar que na
atualidade talvez por essa modernidade líquida, o sujeito ao não encontrar seu lugar
ao sol, acaba se escondendo da realidade através de algo que lhe tire da realidade,
fazendo uso de substâncias químicas.
Ao buscar soluções para que o dependente químico deixe a dependência verificouse ser tarefa difícil e de poucos resultados, vez que ao ser dominado pelo desejo do
outro, raramente o sujeito conseguirá ser resgatado do mundo drogas, muitas políticas
de recuperação são desenvolvidas, porém, poucos resultados positivos são
alcançados.
O dependente químico necessita de uma atenção especial, muita dedicação, vez
que no sujeito normal a fantasia funciona como um pacificador do gozo, já o
dependente marca uma relação com a droga, sendo está a única relação que ele
consegue manter. O levando a morte, se não a física, mas à psíquica.
A utilização de algumas espécies de drogas, coexistem com a história da
humanidade, desde que o homem aprendeu a produzir alimentos, também aprendeu
a produzir algum tipo de droga, que foram aceitas ou reprimidas conforme o local onde
era usada, pela forma e por quem as usava.
Nota-se que no passado os usos das drogas ocorriam de uma forma recreativa,
e por grupos restritos, seu uso era benéfico ao usuário bem como ao produtor, notase que na inauguração de uma capital, foram dez dias de festas com ingestão de
bebidas alcoólicas, todo o povo do reino festejou, porém, sabia-se que após aquele
período tudo voltaria ao normal, o uso do álcool, de ervas dentro de um contexto de
responsabilidade social geram benefícios aos consumidores e produtores.
O que destoa, e trouxe prejuízos quer financeiros quer sociais foi no momento
em que o uso deixou de ser recreativo, restrito a alguns grupos, ou datas, para fazer
parte do cotidiano das pessoas, e seu consumo passou a ser realizado em qualquer dia e qualquer horário e local, passou a produzir seres dominados pela dependência,
causadores de desintegração da família e da sociedade, produzindo altas taxas de
crimes, e de pessoas dependentes sem perspectivas.
Os tratamentos aplicados aos toxicômanos também são paliativos, não
passando de internações, aplicação de outra droga medicamentosa, e a devolução do
sujeito às ruas, sem o interesse de resolver sua situação.
Determinar-se a causa da drogadição não é tarefa fácil, muitas são elas, que
podem vir da genética, do meio onde se vive, ou mesmo pela angustia de não ser visto
pelos olhos dos outros, ou talvez na busca de se encontrar o primeiro prazer, ocorrido
no ato da fecundação, que nem o indivíduo sabe que o busca.
O ser humano vem ao mundo com o desejo de ser feliz, trilhar pelo caminho da
alegria, e na sociedade em que vivemos, onde um atropela o outro em busca do ter, e
não a do ser, faz com que muitos não suportem essa corrida, e na falta de um objetivo
a ser buscado, vai embriagar suas angustia no cálice das drogas.

REFERÊNCIAS:
DIEHL, A; CORDEIRO, DC; LARANJEIRA, R. Dependência Química Prevenção, Tratamento e Políticas
Públicas; editora Artmed, Porto Alegre, 2001. p.249-253.
MIGOTT, AMB; Dependência Química, Problema Biológico, Psicológico ou Social; editora Paulus, São
Paulo; 2.007. p.84.
SANTOS, CE; COSTA-ROSA, A; A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos
toxicômanos.2.007; visto em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103166X2007000400008, acessado em
31/05/2019