A INVISIBILIDADE DOS SERES HUMANOS: UMA CAUSA DE CRIMINALIDADE

INTRODUÇÃO
Este trabalho teve como finalidade fazer um estudo sob o aspecto da criminalidade
e uma de suas origens em confronto com a realidade brasileira. Para a realização do
presente, utilizou-se de diversas doutrinas e pesquisas bibliográficas. O objetivo básico
deste trabalho é fazer um estudo das pessoas, em relação ao meio onde vivem, trabalham
e estudam, e a maneira como são vistas pelos outros. O que de certa forma os tornam
seres humanos quase que invisíveis ou apenas ferramentas de trabalho. Traz em seu
conteúdo, alcoólatras, traficantes, aidéticos, mães precoces, adolescentes esquecidos na
prisão, chefes de gangues e suas vítimas, garotas escravizadas para serviços sexuais,
prostitutas e meninos de rua. Mais do que anônimos entre os milhões de habitantes de
uma cidade, eles passam despercebidos em todos os lugares, não pertencendo a nada,
nem a si mesmos. Só se tornam visíveis, mesmo por instantes, na destruição: Agridem e
matam.
Em muitas oportunidades, ao chegar à escola, nota-se a carência do Porteiro, que
anseia por um “ Bom Dia”, nos corredores depara-se com colegas aflitos, na administração
vê-se Secretarias apreensivas, muitas vezes com receio de atenderem àqueles colegas
aflitos, que por motivos de sua aflição, ou falta de visibilidade em seus lares e ruas,
descarregam sua raiva, nos demais colegas, nas Secretarias ou Professores, passam
pela Portaria sem notarem, que ali estão os Porteiros, muitas vezes senhores de idade,
que os sentem como filhos ou netos, e que nem são notados, esses fatos se repetem nos
lares, nas ruas, hospitais, postos de saúde, estádios de futebol, local onde a torcida é
dividida pelo poder aquisitivo, os de menos posse, vão para os piores setores, essas
pessoas se sentem como inexistentes perante os demais, motivos pelos quais escolhi
esse tema, visando estudar esse fenômeno, procurando encontrar formas de minimiza-lo,
resolvendo uma parcela desse conflito.
Portanto, buscou-se reunir dados e informações com o propósito de responder ao
seguinte problema de pesquisa: De que maneira a compreensão das necessidades do ser
humano de ser visto pode contribuir, para ele não passar despercebido no seu meio social,
ou familiar ou as vezes a si mesmo?

O trabalho tem como objetivo geral analisar as diferentes formas de invisibilidade,
e propor maneiras de solucioná-las, no sentido de contribuir para que o ser humano não
passe despercebido no seu meio social, ou familiar.
Tem como objetivos específicos: Demonstrar que a falta de educação e inclusão,
pode ser uma causa de delinquência, principalmente entre os jovens, caracterizando que
por falta de oportunidades, estes para serem notáveis optam pelo crime, outros optam pelo
desejo da busca de seus ideais no trabalho e nos estudos. Estudar a estratificação das
classes sociais, fator que também cria a invisibilidade. Apresentar soluções, para que a
pessoa invisível ganhe notoriedade, mostrando que os invisíveis para serem notáveis,
necessitam de pouco, muitas vezes um aperto de mão.
A questão da invisibilidade não é atual, vem mencionada em textos bíblicos,
literatura de história antiga, em programas de governo chamados de inclusão social,
melhor distribuição de rendas, e outros.
Para um melhor tratamento dos objetivos e melhor apreciação desta pesquisa,
observou-se que ela é classificada como pesquisa exploratória detectou-se também a
necessidade da pesquisa bibliográfica no momento em que se fez uso de materiais já
elaborados: livros, artigos científicos, revistas, documentos eletrônicos e enciclopédias na
busca e alocação de conhecimento sobre ao existir, ser lembrado e ser útil,
correlacionando tal conhecimento com abordagens já trabalhadas por outros autores.
A pesquisa assume como pesquisa bibliográfica, sendo qualitativa, por sua vez,
proporcionara maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou construindo
hipóteses sobre ele através de levantamento bibliográfico. Por ser um tipo de pesquisa
muito específica, quase sempre ela assume a forma de um estudo de caso.
Como procedimentos pode-se citar a necessidade de pesquisa bibliográfica, isso
porque fez-se uso de material já publicado, constituído principalmente de livros, também
entendemos como um procedimento importante a pesquisa bibliográfica como
procedimento técnico.
A abordagem do tratamento da coleta de dados da pesquisa é bibliográfica e será
qualitativa, pois busca fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos e
atribuição de significados.

O problema foi direcionando a pesquisa para as áreas de: ser visto e notado e a
pesquisa como: pesquisa bibliográfica, sendo esta com a compreensão de que o ser
humano, necessita existir pra si e para os demais.

1 A INVISIBILIDADE NO TEMPO
Pelo que parece a invisibilidade nasceu junto com o surgimento do homem e da
mulher, pois pelo o que consta o “pecado original”, seria uma obra da serpente, iludindo
Eva, para comer do fruto proibido, com a finalidade de em comendo passaria a ser como
o criador.
Deus disse: dela não comereis, nem a tocareis, para não morrerdes. A serpente
disse a mulher. Não vossa morte, não está marcada. É que Deus sabe, que no
dia em que comerdes, vossos olhos se abrirão, e serão como deuses, possuindo
conhecimento do que seja bom ou mau.
A mulher viu que, a arvore era boa de comer, sedutora de se olhar, preciosa para
agir com clarividência. Apanhou um fruto e dele comeu, deu-o também ao seu
homem. (GÊNESIS 3-5-6).
Mais adiante, no texto bíblico vamos nos encontrar com a notícia do primeiro
homicídio acontecido, oportunidade em que Caim, pelo fato de não ter tido visibilidade
perante o criador, mata seu irmão Abel, que era pastor, enquanto Caim era agricultor,
vez que o criador o teria visto com bons olhos.
No fim da estação, Caim trouxe ao senhor uma oferenda de frutos da terra;
também Abel trouxe primícias de seus animais e a gordura deles.
O senhor voltou seu olhar para Abel e sua oferta, mas de Caim e da oferta que
trouxera, desviou o olhar.
[…]Caim falou a seu irmão Abel, e quando foram ao campo, Caim atacou seu
irmão Abel e o matou (GENESIS 4-5-8)
Evidenciamos dessa forma que a invisibilidade humana percorre um caminho que
se estende desde a criação do homem até os tempos atuais, em suas diferentes formas,
neste contexto, podemos evidenciar que prevaleceu sob as outras a cultura do branco,
fato este que acaba sendo aceito pelas demais. Já em relação ao Brasil, vamos perceber
que desde o seu descobrimento, prevaleceu aqui a cultura do branco português, sobre,
inicialmente as dos indígenas, que foram aprisionados e escravizados, e posteriormente
a dos negros africanos, que não eram tratados como humanos, mas, sim como
mercadoria. Depois de muita luta, muitas mortes de fazendeiros, veio a lei Aurea, que
libertou em termos os escravos, que ficou longe de ser uma lei humanitária. Segundo
Maringoni 2011):
Indesejados dos novos tempos Os ex escravos, além de serem discriminados
pela cor, somaram- -se à população pobre e formaram os indesejados dos novos
tempos, os deserdados da República. O aumento do número de desocupados,
trabalhadores temporários, lumpens, mendigos e crianças abandonadas nas ruas

redunda também em aumento da violência, que pode ser verificada pelo maior
espaço dedicado ao tema nas páginas dos jornais. (MARINGONI, 2011)
A partir daí então o Negro foi abandonado à própria sorte, sem moradia, sem
serviço, sem ter o que comer, juntando-se aos demais miseráveis, passam a ser
indesejáveis, passam a serem invisíveis.
1.1 A INVISIBILIDADE E A LEI
Estabelece a Constituição Federal de 1988 em seus artigos 5º e 6º:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. ” (BRASIL C.F 1988).
Reconhecendo essas desigualdades, o legislador tentou diminuí-las, porém essa
tentativa permanece mais no campo legislativo do que no campo prático, e em nome
dessa desigualdade, estamos vendo um Brasil atolado na maior crise política,
vivenciamos todos os dias as manchetes de jornais e programas de televisão, a imensa
quantidade de recursos desviados, e que eram para serem aplicados em favor dos menos
favorecidos. No afã de diminuir essa desigualdade, ao invés de se investir na educação,
na geração de empregos, criando-se condições dignas de vida, preferiu-se a criação das
cotas raciais:
As cotas raciais são ações afirmativas aplicadas em alguns países, como o Brasil,
a fim de diminuir as disparidades econômicas, sociais e educacionais entre
pessoas de diferentes etnias raciais. Essas ações afirmativas podem existir em
diversos meios, mas a sua obrigatoriedade é mais notada no setor público – como
no ingresso nas universidades, concursos públicos e bancos. (MERELES, 2016)
A inclusão vem pela educação, quando o ser humano adquire conhecimento ele
cresce, compreende e não fica à mercê de ser iludido com falsas promessas, passa a ter
argumentos para ir em busca de seus horizontes, porém, ao invés investir-se em
educação de qualidade, investiu-se nas cotas, como forma de se criar inclusão, no meu
modesto entendimento, penso que se deveria legislar para uma nação, no sentido de que

todos formassem um povo, e não legislar-se separando pessoas, nesse sentido tentando
justificar as cotas Mereles (2016), ainda se manifesta:
Algumas pessoas explicam as cotas raciais por meio do conceito da equidade
aristotélica. Aristóteles, o filósofo grego criou uma teoria que consiste
em: tratar desigualmente os desiguais para se promover a efetiva igualdade (grifo
do autor). Se duas pessoas vivem em situações desiguais e forem concorrer nas
mesmas condições, concretamente a desigualdade será perpetuada. As ações
afirmativas seriam uma maneira de colocar essas pessoas no mesmo patamar
de concorrência. (MERELES, 2016)
Longe de ser uma solução, o programa de cotas, é um programa que cria distinção
racial, dando vantagem para pessoas que estão no mesmo nível social, apenas por razão
de sua origem, seria mais justo a ampliação do acesso ao ensino, bem como uma
melhora radical em seu conteúdo, fato este que traria o equilíbrio faltante.
1.2 A INVISIBILIDADE E A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Estudando as pessoas de acordo com o meio social onde vivem, suas condições
econômicas, as classificamos em três classes principais, classe alta, média e baixa,
podendo ainda haver subdivisões, de acordo com profissões e outros fatores, como o
lugar onde moram. E de acordo com a classe e meio onde vivem, as pessoas possuem,
culturas diferentes com mais ou menos conhecimentos em diferentes áreas, e no
momento em que os filhos vão para a escola, é que se identifica esses níveis, sendo que
na, maioria das vezes a escola não está preparada para lidar com essas diferenças,
momento em que então elas se acentuam. Soares (2004) .
Para Soares (2004), alguns fatores que determinam o desempenho cognitivo
pertencem a três grandes categorias: os relacionados à família, ao aluno e à escola. Nos
Estados Unidos Pesquisas realizadas nos anos de 1950 e 1960, bem como na Inglaterra
e França mostraram que fatores extraescolares explicam mais as desigualdades
observadas no desempenho dos alunos do que fatores intraescolares. Continua dizendo
Soares (2004), que essas pesquisas de forma particular, mostraram que tanto o acesso
à educação como os resultados escolares estão associados de maneira forte e direta às
características socioeconômicas e culturais dos alunos.
É evidente que os fatores externos influenciam sobre maneira no desempenho
escolar, porém, novas pesquisas indicaram que com boa vontade, e aplicando-se uma

atenção diferenciada a cada grupo de alunos, os resultados são diferentes, e aquela
máxima de que a escola não faz a diferença, passa a cair por terra. Conforme nos ensina
Soares (2004):
Toda escola precisa de um projeto pedagógico consistente. Nele se explicitam
importantes decisões acadêmicas, como a forma de alocação de alunos e
professores às diferentes turmas, o uso do tempo escolar, o que será ensinado
aos alunos e como se dará a instrução. Mas acima de tudo o projeto pedagógico
deve favorecer a criação de um clima de desafio intelectual que sirva de base
para a expressão de todas as outras estruturas da escola. (SOARES, 2004)
Para se fazer o projeto, a equipe tem que ser composta por direção, serventuários
e professores, todos imbuídos do mesmo desejo, não basta a boa vontade de um e o
restante da equipe não se empenhar, ou até trabalhar contra o projeto, no filme “
Escritores da Liberdade”, nos deparamos com a professora dedicada, que leciona para a
pior classe da escola, classe essa que todos torcem para dar errado, porém, com
dedicação a professora leva adiante seu projeto, fazendo daquela classe que era a pior
na melhor (Escritores da Liberdade, 2007).
Soares (2004) manifesta o seguinte entendimento:
A alocação de alunos a diferentes turmas é uma importante decisão acadêmica,
pois define o ambiente em que se dará a instrução. Já foram verificados os efeitos
deletérios, para o conjunto dos alunos, de se separar aqueles com maior
habilidade em uma mesma turma. Essa estratégia, quando usada, traz pequenas
vantagens para os alunos da turma especial e um grande prejuízo para a escola
(SOARES, 2004).
Nesse ponto de vista discorda-se plenamente de Soares,( 2004), levando-se em
conta que com essa política, em nome dos alunos menos eficazes, ao invés de melhorar
suas habilidades, se freia a habilidade dos demais, é evidente que aqueles menos
habilidosos devem receber tratamento diferenciado, estudar caso a caso, fazer um
levantamento familiar, procurar resolver os problemas, desatar as amarras, não pura e
simplesmente deixá-los na mesma turma, onde irá ser mais excluído, pelo fato de não
acompanhar a turma, ou irá frear o bom desempenho dos demais, fato este
desestimulante para os habilidosos. Vivemos em um mundo, onde para se viver em
sociedade, não podemos viver os nossos desejos, mas, sim temos que submete-los à
demanda dos outros, ou seja, temos que fazer mais o que os outros querem, e menos o
que queremos.
Continuando seus ensinamentos, Soares (2004) escreve:

O problema de tornar a escola pública mais eficaz e mais equitativa na produção
do aprendizado de seus alunos é grande e extremamente complexo. Sua solução
só virá lentamente, mas é essencial que as intervenções reforcem o papel que a
sociedade atribui à escola, isto é, a estrutura preferencial para o aprendizado de
conteúdos cognitivos necessários a uma participação crítica e ativa na sociedade.
(SOARES, 2004).
O que vê-se na atualidade é que houve uma grande revolução nos meios de
comunicação, onde quase todos têm acesso à internet, a informação chega na
velocidade de um raio, muito diferente da época do descobrimento, onde uma carta vinda
de Portugal, levava meses para chegar às mãos do destinatário. Na atualidade fotos,
filmes, são feitos quase que em qualquer ponto do planeta, e transmitido no mesmo
instante ao outro lado do mundo, ou até para fora do planeta, e vemos que embora tenha
ocorrido toda essa evolução, os meios de educação regrediram, com métodos que não
educam, nem ensinam, onde após cursar nove anos de escola, o aluno sai sem saber
ler, escrever ou fazer contas, serviu apenas de número para um sistema inoperante. Após
concluir o ensino fundamental, ao invés de sair integrado, a estratificação saiu mais
evidenciada, o aluno que chegou à escola vindo de uma classe social mais elevada, foi
melhor acolhido e compreendido, falou a mesma língua dos mestres, enquanto aquele
da classe inferior, chegou sem compreender o palavreado, não foi visto, não soube falar,
chegou mudo e saiu calado, procurou se encolher na cadeira para não ser visto pelo
professor, para não passar pelo vexame de não saber responder a pergunta que lhe
feita, procurou e torceu para ser invisível, fato este que se nada for feito, irá levar consigo
para o resto da vida.
Conforme, Dimenstein (2006) existem as “pontes de resistência” criadas por
pessoas cujo objetivo é transformar a injusta e deprimente realidade em algo melhor.
Elenca exemplos de projetos que nasceram dentro de favelas, organizações não
governamentais de apoio as mais variadas causas, cidadãos anônimos que não
esperaram financiamento governamental para investir em jovens e adolescentes em
situações de risco social, entre muitos outros. Para Dimenstein,( 2006), a arte, a música,
a poesia, a educação e o trabalho se transformam em refúgio, proporcionando reflexão e
mudança. Se a violência está diretamente ligada à sensação de marginalidade e
invisibilidade, esse é o ponto de partida para a mudança que faz nascer o sentimento de
pertença e reconhecimento do outro como ser humano, que partilha dos mesmos direitos

e deveres. A cooperação faz parte do desenvolvimento humano e social, equilibrando e
proporcionando condições justas.
Encontramos portanto momentos distintos onde a invisibilidade é analisada, no
primeiro momento Sales (2007), a trata como causa de delinquência entre os jovens
infratores, e que estes teriam que fazer uma escolha difícil, continuar invisível e no
subemprego, ou partirem para a lado da violência e do crime, já Costa (2004), trata a
invisibilidade como algo degradante, ela vem caracterizada em uma vestimenta, em um
uniforme, que quando usado, tira a existência do ser humano, o tornando um objeto, mas,
não para todos, pois dentre aqueles que o usam, naquele grupo continuam existindo,
Costa( 2004), não trata aqui a invisibilidade como causa de criminalidade, mas, como uma
causa de exclusão, de desumanização, tornando as pessoas meros objetos. Dimenstein
(2006), cuida da invisibilidade de uma maneira mais ampla, a estudando nas grandes
cidades, na floresta, e em outros países, a trata como forma degradante, não como única
causa de criminalidade, mas, sim como uma possível causa, demonstra que alguns
desvalorizam os outros, para compra-los a baixo custo, Dimenstein (2006) porém, além
de trazer o problema à tona, não se limita a ele, pois também, apresenta várias soluções.

2 A INVISIBILIDADE E A SOCIEDADE
Segundo Souza (2006, p. 72) ao combinar aspectos econômicos e socioculturais,
se vincula a situação da classe a uma “ condução de vida” específica, representando uma
atitude em relação ao mundo. Para Souza (2006 p. 72) essa condição de vida não se
resume na esfera econômica e sim, em uma condição de vida, que permitirá construir
laços de solidariedade ou preconceito. Ainda para Souza( 2006, p. 74) essa atitude
proporciona a justificativa de privilégios, fazendo com que apareçam como qualidades
inatas dos indivíduos, e a origem social dos privilégios da classe é naturalizada. Nesse
diapasão, vemos com naturalidade os privilégios dados aos políticos, que usam dinheiro
público para tratamento de saúde, enquanto a população sofre em filas para atendimento
em hospitais públicos, os mesmos se deslocam em jatos particulares aos melhores
hospitais particulares que existem, vemos ainda benefícios dados aos membros do
Judiciário, e outros, como auxílio moradia, auxílio creche.
Ao comentar o sistema Judiciário brasileiro, Pastana ( 2009, p. 135), diz: “Assim
se naturaliza atualmente um sistema de poder que sem contradição aparente, afirma a
liberdade e a igualdade e pratica a opressão e a desigualdade”. Nos momentos atuais
vemos estarrecidos as diferentes decisões da Justiça Brasileira, em oportunidades
idênticas, juízes da mais alta corte, permitem que criminosos que pertencem a classe
alta, ou amigos, não sejam presos, criminosos que subtraíram fortunas dos cofres
públicos, possam aguardarem eternamente em liberdade a finalização de seus
processos, política famosa que foi posta em liberdade, para cuidar dos filhos, enquanto
na outra extremidade, encontramos, pequenos furtadores, cumprindo extensas penas, os
de posses, tem o direito a fazerem tratamentos médicos em clinicas particulares, os
menos favorecidos, permanecem encarcerados em unidades insalubres e superlotadas.
Assim escreve Sorj (2004):

Temos, pois, uma dupla estratificação: a determinada pela renda individual e a
determinada pelo uso-fruto de bens públicos. Em princípio, a estratificação pela
renda individual tende a ser muito mais desigual que aquela produzida pela
distribuição desigual dos bens públicos, que idealmente procura ser não apenas
igualitária como compensadora da estratificação determinada pelo mercado. O

impacto dos bens públicos na compensação da desigualdade social nem sempre
é efetivo, e alguns desses bens, em especial a educação, favorecem
particularmente as classes médias. Em situações como a brasileira, os grupos
mais pobres da população são os menos beneficiados pelos serviços públicos
(SORJ, 2004, p. 43)
Depara-se com o descaso na prestação dos serviços públicos com os menos
favorecidos, um deles diz respeito a coleta de lixo, normalmente a coleta ocorre todos os
dias ou em dias alternados nos bairros centrais, já na periferia esses serviços acontecem
e quando acontecem muitas vezes uma vez na semana, em relação a iluminação pública,
os melhores sistemas estão alocados sempre nos bairros centrais, já nos periféricos onde
a pavimentação das vias são mais precárias e inexistentes, a iluminação obedece os
mesmos critérios, dando a entender que os mais favorecidos necessitam de mais luz,
para se protegerem dos menos afortunado, verificamos ainda que os serviços de
saneamento básico, sempre começam do centro para a periferia, agraciando sempre os
mais favorecidos, as captações de águas pluviais começam no centro e
costumeiramente são despejadas na periferia.


2.1 A INVISIBILIDADE E O UNIFORME
Para Miranda (2017, p. 20), as diversas manifestações de sofrimento, uma
humilhação social, que é aturado no tempo e sentido por pessoas de classes pobres,
processo de invisibilidade pública, ocorre geralmente com profissionais de mão de obra
assalariada, que não necessitam de muita escolaridade ou qualificação, apesar de
desempenharem papel de muita importância na sociedade, não gozam de status de
profissões respeitadas. Conforme Miranda ( 2017, p. 20) a invisibilidade pública, trata-se,
portanto, do desaparecimento de um homem no meio de outros homens, um fenômeno
psicossocial que assume caráter crônico na sociedade capitalista, tendo como exemplo
destas profissões, ascensoristas, porteiros, empregadas domésticas, garçons e
trabalhadores da construção civil.

Analisando a organização dos palcos da Disney, e a importância que se dá a quem
ali trabalha, bem como a felicidade de trabalhar para aquela empresa, assim se
expressaram: ( DEAL e JENKINS, 1994):
Como vimos, a função de bastidores é essencial para o desempenho da
organização. A invisibilidade não diminui a importância dos cargos, dos espaços
das salas, dos trajes adequados. Os símbolos e as roupas são tão importantes
para quem trabalha na sombra, como para quem fica sob a luz dos refletores. Os
símbolos organizacionais criam em todos os funcionários, os que o cliente vê e
os que não vê, o senso de orgulho e de inserção. Os uniformes dos bastidores
são tão emblemáticos quanto o figurino dos atores principais que aparecem para
a plateia. (DEAL e JENKINS, 1994, p. 150)
Experiência vivenciada por Costa (2004, p. 40), oportunidade em que vestido de
gari, calça camisa e boné vermelhos, cruzou pelos corredores da faculdade onde
cursava, imaginando que vestido daquela forma seria logo reconhecido, acompanhado
de outro gari, cruzaram o piso térreo, escadarias, primeiro andar, não foi reconhecido, e
as pessoas não reagiam a presença deles, umas outras até se desviavam, como se
desviam de obstáculos. Costa (2004, p. 40) se surpreendeu, nenhum olhar, nem um
cumprimento, era um uniforme que perambulava, estava invisível. Podemos ver então
que determinados uniformes, ocultam as pessoas que os vestem, passam a serem vistos,
como objetos, tais quais as empilhadeiras dos atacadistas, onde as pessoas pura e
simplesmente se desviam delas.
A exclusão Política fabrica sintomas infestando o afeto, o raciocínio, a ação e o
corpo do homem humilhado. Assume poder nefasto ao mesmo tempo que
amolda a subjetividade do indivíduo pobre, caracterizando-o muitas vezes como
um ser que não pode criar, mas, que deve repetir, esvazia-o das condições que
lhe possibilita transcender uma compreensão imediata e estática da realidade.
(COSTA, 2004, p. 44)
Prossegue relatando seu aprendizado, Costa (2004 p.87)
Telefonei para casa e pedi uma máquina fotográfica. Entendi que deveria
registrar aquela experiência inédita: Trabalhar com varredores como varredor.
Guardo as fotos até hoje. Familiares e amigos, folheando o álbum, demoram a
me encontrar em meio aos companheiros. Depois parecem estranhar a
dificuldade: “nossa você é tão branquinho perto deles! Olha! Dá para ver a
diferença. ”Quando penso hoje no recurso da máquina fotográfica, reparo que a
ideia de me fotografar e fotografar os garis veio depois da invisibilidade. (COSTA,
2004, p. 87)
Continuando Costa ( 2004, p. 88), diz que sentir-se invisível atordoa, não
aparecer para os outros, nos dá a sensação de parecermos como coisa, passamos como

um item da paisagem, uma pessoa com uniforme de gari, é vista como se vê um poste,
uma árvore, uma placa de transito.
Diz Costa (2004, p. 94), que quando o uso do uniforme é obrigatório, naqueles
trajes, todos parecem como se tivessem uma só identidade, não se sabe quem é quem.
Aparece o uniforme desaparecem os homens.
Eles fingem que são cegos, que não vê a gente. A cegueira não é cegueira. É
fingimento, diz o gari. As pessoas que passam sem perceber os garis, na verdade
dissimula. O outro, vê, mas, finge que não vê. Um ato consciente? Deliberado?
Um ato inconsciente? Involuntário? Cegueira que nos toma ou cegueira de que
temos necessidade? Eles fingem que são cegos, que não vê a gente. “ Seria a
cegueira pública um ato de dissimulação? Um disfarce, um ato de encobrimento?
Tornar o outro como invisível implica mascarar a visão, mascara-la
passivamente. O diagnóstico e o exame da cegueira pública, a interpretação da
gênese e do desenvolvimento da doença, nada mais difícil. O debate não pode
dispensar a experiência e a palavra do oprimido. A decisão certeira sobre o que
acontece depende da experiência e da voz do homem que ficou apagado.
(COSTA, 2004, p. 110)
Analisando, os posicionamentos de (COSTA, 2004) e ( DEAL e . JENKINS, 1994),
conclui-se que não é o uniforme que torna o homem invisível, mas, o local onde o mesmo
é usado.
2.2 A INVISIBILIDADE E A JUSTIÇA
Sales (2007, p.63), analisa a cultura política na justiça brasileira:
A cultura política engendrada no Brasil, da Colônia aos dias de hoje, não obstante
momentos e movimentos de investimento na construção de vínculos civilizatórios,
tem sido, como vimos, marcada por: discriminações sociais, étnicas, de gênero,
religiosas e culturais, polarização entre privilégios e carências, repressão,
corrupção e autoritarismo. (SALES, 2007, p. 56)
Prossegue, Sales (2007, p. 63), A justiça no Brasil traz, portanto, as marcas de
uma sociedade historicamente partida, cindida sobretudo pelo que foi a experiência da
escravidão. Continua Sales ( 2007, p. 63), a justiça tem, contribuído desde o século XIX,
por meio de uma teatralidade do poder. É algo de faz de conta, pobres, pretos e
prostitutas, recebem as mais altas penas, os ricos e poderosos jamais conhecem os
rigores da lei, são tratados sempre como “coitados”.
Agiram, assim, talvez com o intuito de exibir a sua condição de superfluidade e
descartabilidade social, […] Armados para uma verdadeira guerra, nestas e
noutras ocasiões, com estiletes, paus, tesouras, pinças, canetas, martelo,

serrote, os adolescentes recorreram a tudo o que encontram pela frente e que
seja capaz de ferir, tanto para se defender quanto para lesar aqueles que os
machucam […] Muitos deles de fato cometeram infrações graves […]vale
mencionar que diversas pesquisas atestaram que os adolescentes seguem
sendo mais vítimas que atores da violência. (SALES, 2007, p. 249)
Escreve, Sales ( 2007, p. 249) “ sabe-se, todavia, que adolescentes em conflito
com a lei, principalmente aqueles que já trazem na sua história de vida passagens pelas
ruas, tem realmente muita dificuldade de se submeter a qualquer tipo de ordem sem
resistências. ” É bem sabido que quem cresceu na rua, fez suas próprias leis, onde foi
tratado como bicho na selva de pedras, quase nunca ou nunca soube o que é “carinho,
amor ou respeito”, não seria em um primeiro momento que alguém lhe desse uma ordem,
ou lhe dissesse que seu modo de vida está errado, que ele iria aceitar passivamente.
Regina falava, e era como se quisesse apenas ouvir a própria voz. Ela não olhava
para nenhum de nós, apenas falava, e sua fala era a fala de milhares de
mulheres, com sua história de violência, abuso e sofrimento. Sua fala era a fala
de milhares de usuários de drogas, com suas individualidades jogadas na vala
comum do preconceito e da incompreensão demonizados sob o rótulo
homogeneizante que julga a todos os traficantes, condenados à invisibilidade e à
criminalidade. (MANO e PRADO, 2010, p. 36).
Quantas Reginas, tem-se pelas ruas das cidades, que por um ou outro motivo, na
maioria das vezes por não serem vistas no seu meio familiar, social e educacional, vieram
parar nas ruas, e para ali se manterem, se prostituem, usam e vendem drogas, praticam
furtos, viram farrapos humanos.
Essas famílias enxergaram na própria precariedade do local um mecanismo que
lhes assegurou uma espécie de invisibilidade, que permitiu a sua permanência
no local. Afinal, a cidade ignora e tolera aquilo que não vê…porque as famílias
que se instalaram no local passaram a dividir esse espaço da cidade com alguns
“ladrões” e pequenos traficantes. Estrategicamente, esses criminosos procuram
essa região para se esconderem porque contam com o medo dessas famílias.
(SILVA, 2010, p. 242)
Deduz-se, que quanto pior a situação financeira da pessoa, pioram suas
oportunidades, a moradia tem que ser em locais distantes do centro, ou quando próximo
ao centro em um local impróprio, com perigo e desabamentos e inundações, e dado ao
fato desses locais serem impróprios, são esquecidos pelas autoridades, são locais
invisíveis, moradores invisíveis, fato este que acaba por atrair a criminalidade.
Conforme ensina, Viapiana (2006, p. 98), não é a pobreza, e a invisibilidade que
por si só levam os jovens ao crime.

Além disso, devemos considerar ainda a questão crucial de que alguns indivíduos
apresentam maior disposição para cometerem crimes. Essa disposição é
influenciada por inúmeros aspectos, entre os quais as características pessoais,
como irritabilidade e impulsividade. Além disso, fatores como acreditar que o
crime é justificado por alguma razão – sentimento de justiça, por exemplo- sofrer
a influência de algum modelo, convier com amigo criminoso, como preconiza a
teoria da aprendizagem social, podem tornar algumas pessoas mais propensas
ao crime do que outras. (VIAPIANA, 2006, p. 98)
No ensinamento de Viapiana (2006, p. 99), este diz que os indivíduos retêm
noções de interacionismo e que os mesmos têm capacidade de imaginar-se no papel do
outro, portanto não é só a convivência com outros criminosos, que o fará um criminoso,
mas, sim os princípios e os valores que governam o comportamento humano, como foram
adquiridos, mantidos ou modificados.
A suposição é de que quanto mais uma pessoa acredite que uma atitude é errada,
menor a probabilidade de cometê-la. Porém, a teoria trabalha com o conceito de
neutralização, ou seja, de verbalizações e racionalização que operam como
justificativas para atos descritos como crime, tais como “eu não sou responsável”,
“ eu nasci assim”, “eu estava bêbado e não sabia o que estava fazendo”, entre
outras. Cognitivamente, tais alegações servem como justificativas para o crime,
quando a oportunidade surge, um especial estimulo interno que anula a crença
de que está fazendo algo errado. (VIAPIANA, 2006, p. 100)
Nesse sentido, pode-se então dizer que o meio, também produz o criminoso,
depende é bem verdade de como e onde ele nasceu, qual a sua formação familiar,
quando esses princípios são frágeis, e o indivíduo é lançado no meio a outros sem boa
formação, quando vive sem expectativas de progresso, em muitas e muitas vezes ao
associar-se com outros, com formação pior que a sua, ou que já frequentam o mundo do
crime, ele então acabará arrebanhado para o mundo do crime e da violência.

3 AÇÕES QUE INCLUEM
Para se fazer a inclusão, necessitamos limpar a mente, desarmar o coração,
aceitar que todos têm um saber, e que não existe melhor saber, não impondo e sim
aprendendo.
Os Muros estavam cobertos de beleza, grafites coloridos. […] A beleza traz
alegria e esperança. Quando se coloca luz em um lugar escuro, se sente que ali
a vida começou a aparecer, quando se faz uma bela pintura em um muro sujo,
se traz alegria ao local. Os psicanalistas são seres estranhos, mostra-se as rosas
e eles perguntam: “onde está o esterco? ” Naqueles muros eu senti o contrário,
alguém ao ver o esterco, se perguntou “mas a rosa onde está? ” (ALVES, 2008,
p. 29)
Dimenstein, (2006, p. 53), Ivete Mitiko não se conformava com o estado do
colégio Rodrigues Alves, do qual era diretora. […] Batalhava em vão por uma
reforma. Sempre dizem não há dinheiro. […] Com o apoio de um banco saiu a
reforma da fachada. Empresas decidiram apoiar melhorias do currículo, capacitar
professores e envolver os pais. […] Estudantes da Faculdade Casper Libero
dispuseram-se a ajudar a Rodrigues Alves a montar seu próprio jornal. A escola
se tornou uma das referências de integração da comunidade com a educação
pública na cidade de São Paulo.
Conforme se nota as atitudes de incluir, vem do povo, as ações estatais sempre
envolvem interesses midiáticos e pessoais, produzindo poucos ou nenhum efeito, pois o
político sempre visa promover a sua imagem em detrimento das pessoas carentes, ou
seja, daqueles invisíveis, que só ganham notoriedade no momento da promoção desses
inescrupulosos.
O projeto tem como iniciativa recuperar alunos e escolas de regiões carentes por
meio de atividades artísticas, e para isso foram implantados bibliotecas e
laboratórios de informática, além disso criou-se aulas de dança e percussão. Os
professores do projeto são artistas plásticos contratados e professores da própria
escola. O projeto procura abrir espaço para a cultura, a fim de que os alunos
desenvolvam habilidades e competências que serão refletidas em sala de aula.
Eles aprendem a trabalhar em grupos enquanto pintam os murais, e a arte é para
esses jovens uma maneira de expressar os problemas vividos em casa e nas
ruas. (FERREIRA, 2010, p. 52)
Nesses projetos, onde se trabalha em grupo, um ajuda o outro, e o resultado do
trabalho de um interfere no trabalho do outro, onde jovens antes solitários, aprendem o
valor da cooperação, oportunidade onde sentem que não estão só no mundo, sentem
que alguém se preocupa com ele, e que existem várias outras pessoas vivendo o seu
mesmo dilema.

No mundo estima-se que mais de cem milhões de crianças vivam nas ruas,
Ferreira( 2010, p. 52), motivos pelos quais a Unesco no decorrer de dez anos implantou
200 projetos em parceria com empresas, artistas e campeões esportistas, esses projetos
atingem 75 países, conforme, Ferreira, (2010, p. 52), esses projetos atingem também,
além de crianças de rua, vítimas de guerra, crianças trabalhadoras e portadores de
deficiência.
Ferreira (2010, p. 53), cita o projeto “abrindo espaços”, que trabalha no sentido
de diminuir a violência nas comunidades, o projeto iniciou-se no Rio de Janeiro e
Pernambuco e na atualidade expandiu-se à diversos estados, segundo Ferreira (2010, p.
53) o projeto trabalha envolvendo jovens em atividades artísticas, é realizado nas escolas
em finais de semana, trabalhando oficinas de arte, principalmente grafite, esportes e
atividades de lazer.
Continuando, Ferreira (2010, p. 55), apresenta o projeto, “ dançando para não
dançar”, o qual usa o perfil lúdico da dança como instrumento de inserção social, e tem
como objetivo, ajudar crianças de baixa renda, tirando-as da rua, afastando-as da
violência e da prostituição, contribuindo para a inserção social, com uma política de
acesso à cultura e a profissionalização.
Explicando ainda o projeto; “ Nós do Morro”, que é voltado para o teatro, criado em
1.986 por: Guti Fraga, Ferreira( 2010, p. 56), esclarece que o mesmo funciona no Vidigal,
Rio de Janeiro e por ele já passaram mais de duas mil pessoas entre jovens e adultos,
sendo que parte deles estão inseridos no mercado de trabalho, atuando no teatro,
televisão, cinema e outros como técnicos de iluminação, produção e cenografia.
Parece que a afiliação dos jovens e crianças, aos grupos e sua construção
ficcional na vida da cidade representam a elaboração dos elos que ligam esses
sujeitos à totalidade, àquilo que chamamos de sociedade. Estes elos não se
consolidam em torno da lição formal de direitos e deveres, na versão
racionalizada e as vezes burocratizada da cidadania, mas, através do
empreendimento de refazer os sentidos das experiências de si no contexto da
cidade, valorizando a emoção, o prazer, o estar junto, como elemento prioritário,
a participação torna-se mais que um direito a conquistar, um momento desviante
frente a prática homogênica. A inclusão que crianças e jovens conseguem
realizar dentro do grupo mais amplo da cidade grande, parece advir do
movimento deslanchado no âmbito da localidade e dos grupos que as subculturas
possibilitam. Ainda que uma totalidade possa ser imaginada, ela, no entanto, esta
capturada pelas diferenças que dividem as cidades em grupos, muitas vezes
hostis entre si, determinando múltiplos efeitos sobre vínculos sociais. (CASTRO,
2004, p. 199)

Portanto, para a implantação dos programas de inclusão devemos também levar
em conta o grupo local da cidade onde pretendemos implantá-lo, analisar quais os
desejos daquela comunidade, não impondo nossa vontade, mas, sim atender ao que ela
deseja.
3.1 EDUCAR PARA INCLUIR
Para, Esclarin (2005, p. 35-36)
Não vai ser uma tarefa fácil evitar o fracasso dos mais fracos, num mundo que
está organizado para reproduzi-lo. De fato a educação reproduz a desigualdade
enquanto legítima as instituições que as recriam. […] Por trás de cada educando
que fracassa esconde-se o fracasso do educador, da família, do programa
educativo e da sociedade. […] Daí vem a necessidade em praticar a
discriminação positiva, de forma que se privilegie e se atenda melhor os que tem
maiores carências, para assim compensar no que for possível, as desigualdades
de origem. […] A discriminação positiva para incluir os excluídos implica atender
também, com especial acolhimento, as crianças, jovens e adultos que nunca
foram à escola, ou a deixaram de frequentá-la antes do tempo.
Vê-se claramente os efeitos da estratificação na sociedade, ao colocarmos no
mesmo patamar pessoas com conhecimentos diferentes, se o educador não falar o
linguajar de todos, aqueles que não forem compreendidos, sairão prejudicados no
processo, e com certeza sairão mais excluídos.
Escreve Mazza (2005, p. 183) sob as populações excluídas:
Diz-se frequentemente, que as populações excluídas têm pouco mais do que seu
próprio trabalho para escapar do ciclo da pobreza. Por definição esses grupos
excluídos têm acesso mais limitado ao capital financeiro e às redes sociais,
dependendo, portanto, de seu próprio capital humano- isto é, educação,
habilidades inatas e adquiridas, motivação e hábitos de trabalho, como porta de
saída de exclusão. O mercado de trabalho e a educação constituem duas
importantes vias para a construção desse capital humano.
O trabalho, dignifica a pessoa, a educação lhe cria horizontes, fazendo-a
caminhar em busca de novos rumos, estimulando-a a ir em busca de mais conhecimento,
incluindo-a no meio social. O conhecimento eleva a capacidade da pessoa, a faz entender
e compreender os mecanismos dos que detém o poder, vez que estes sempre querem
impor seus desejos, não aceitam mudanças e outras formas de conhecimento e maneira
de se expressarem, e quando não se tem o conhecimento, se aceita essa submissão
Ensina Dimenstein (2006, p. 47,48)

Decidiram criar uma escola em que os alunos aprendessem como aprender – e
não apenas memorizassem informações. O currículo deveria perseguir o prazer
da curiosidade; os professores seriam treinados para transformar curiosidade em
informação, informação em entendimento. A diversidade cultural do bairro,
dividido entre negros e hispânicos, seria fonte de aprendizado orientado pela
reverência à ética e a justiça social. Descobrir a comunidade seria descobrir o
mundo por meio da poesia, das artes plásticas e da música. […] Os museus,
teatros e bibliotecas foram incorporados à sala de aula[…] O projeto prosperou,
firmaram-se acordos com escolas privadas para troca de informações e
convênios com as universidades para desenvolvimento de programas
tecnológicos. Em pouco tempo, a escola foi apontada pela imprensa e pelas
faculdades de educação como uma das dez melhores escolas básicas de Nova
York.
É preciso inovar os métodos de ensino, não se impondo a vontade de grupos que
acreditam serem os donos da verdade, mas, em comum acordo com os estudantes, seus
responsáveis, e a sociedade local, ensinar aquilo que se quer saber, e o que vai ser
utilizado na vida da pessoa, o que lhe vai fazer entender uma gama enorme de coisas
novas que surgem todos os dias, mas, para que isso ocorra necessitamos inicialmente
capacitar os educadores.
3.2 A FALTA DE REFERÊNCIAS
Falando sob referências Dimenstein ( 2006, p. 50,51) escreve:
As explicações para essas conquistas em bairros deteriorados são oferecidas por
estudiosos como William Julius Wilson, professor de Harvad, considerado um dos
mais importantes intelectuais americanos. Ele estudou a história de bairros como
Harlem e South Bronx – seu principal foco de investigação são os guetos de
Chicago-, que sofreram com a perda de postos e trabalho na indústria. Wilson
constatou que os números da violência seguem o do desemprego,
acompanhados de uma sensação de desesperança, falta de perspectiva e
destruição das famílias e decadência das escolas. Logo a elite do bairro vai
embora, e os que ficam não tem modelos positivos a seguir, escreve Wilson. Esse
processo abala uma riqueza chamada capital social, recuperado, em parte, nos
programas de inclusão social do Harlem. […] O brasileiro José Alexandre
Scheinkman, coletou registros de homicídios de centenas de cidades.
Relacionou-os a seus dados de desemprego, renda, escolaridade, cor e religião
dos moradores, entre outros fatores. Vimos que um determinado nível de pobreza
não corresponde diretamente a um determinado nível de violência. Um dos
fatores que pesa é a relação entre criminosos e falta de estrutura familiar – filhos
de mães solteiras ou abandonadas pelos maridos compõem a maioria dos
assassinos dos Estados Unidos.
Nota-se que não é a pobreza que faz da pessoa um criminoso, na maioria das
vezes o que o levam ao crime é a falta de referências, as vezes essas referências estão

nas elites, onde a pessoa mais humilde se espelha para poder ser parecido, mas, na
grande maioria das vezes o que leva a pessoa ao crime, é a falta de referência familiar,
ou porque são filhos de mães solteiras ou separadas, falta então a referência de um pai,
mesmo porque, nesses casos as mães terão que trabalhar dobrado para manter os filhos,
e estes ficarão mais tempos desprovidos da convivência materna, e já não possuem a
convivência paterna, em outras oportunidades são filhos de pais drogados, que não lhes
passam nenhuma base.
Continua Dimenstein (2006, p. 93,94)
Desculpe-me por incomodá-lo, mas preciso de sua ajuda. Luciana Gil preparava
um projeto para o curso de psicologia social da PUC: uma dissertação de
mestrado sobre protagonismo juvenil. Tinha lido alguns de meus textos sobre o
assunto, mas não sabia como me encontrar nem, se me encontrasse, se eu iria
atende-la. Queria orientação sobre experiências bem-sucedida no Brasil e
referências bibliográficas. Com um olho em mim e outro nos clientes que
começavam a chegar, Luciana rapidamente tomava nota do que lhe dizia. […]
Aquela conversa no spot não é um detalhe isolado, reflete uma comunidade cujo
capital humano se aperfeiçoa: afinal em quantos lugares do país uma garçonete
pede ajuda para seu projeto de pós-graduação ao mesmo tempo em que atende
seus clientes?
Dimenstein ( 2006, p. 99) Também relata histórias de prostituição:
Muita gente na cidade sabia dos leilões de virgens promovidos por Maria Dalva
Bandeira, ex-professora que, na adolescência estudou para ser freira. Assim que
chegava uma menina “selada”- expressão usada nesses meios-, a cidade era
avisada. Quem pagasse mais teria o direito de ser o primeiro. Os homens se
aglomeravam no salão. Dalva apresentava a menina bem produzida, de vestido
novo e insinuante, maquiada e de cabelo penteado. Em seguida a menina voltava
para o quarto. E os lances se sucediam, até atingir um valor máximo, geralmente
apresentado por filhos de fazendeiros. No dia seguinte, o leilão era o grande
assunto dos jovens mais ricos. Deflorar era sinal de status.
Nota-se aqui a falta de referência, dos jovens compradores, que tratavam as
meninas como objetos, as desvalorizavam, para compra-las barato, a Cafetina que
lucrava com a venda, estão desprovidos da referência da moral, da dignidade humana,
as meninas vendidas desprovidas da referência familiar.
Por fim Dimenstein (2006, p. 12,119, 120, 188,189) escreve:
Destoando desse cenário, dezenas de bolas de gude misturadas a pedacinhos
de espelho compunham mandalas amarelas sobre o fundo azul brilhante que
passou a cobrir as paredes do bar. As bolas de gude, tão cobiçadas pelas
crianças e tão fáceis de serem arrancadas, sobreviveram até hoje; só quatro
desapareceram, numa intrigante capacidade de resistência. […]. Nesse ambiente
de experimentação comunitária, crianças e adolescentes, aproveitando a

vocação da vila para as artes, recuperaram praças, postes, muros e calçadas,
grafitando ou fazendo peças de mosaico. Estabeleceram então, uma relação
diferente, produtiva, com seu entorno, no qual se imaginam responsáveis e
autores. Justamente nesse exercício colocaram as bolas de gude no bar sem
nome da Belmiro Braga. Todos avaliaram que logo seriam arrancadas. […]. Essa
sensação de visibilidade é o que está guardado nas bolas de gude intactas na
fachada do bar sem nome. Como foram colocadas pelas crianças e pelos jovens
que se apoderaram do espaço, elas fazem parte de um território conquistado em
que não se percebem nem anônimos, nem muito menos invisíveis. A dona do
bar, que nunca se preocupou em colocar a placa em seu estabelecimento, cuida
da fachada como se fosse uma espécie de troféu.
Nesse sentido, percebe-se que se convidarmos a comunidade para participar da
construção, ela não vai destruir o que fez, vai se sentir integrada ao feito, aquilo é seu, a
pessoa se vê na obra, são muitas as lições de ações desse tipo que deram certo.
Infelizmente ainda pouco utilizadas, temos praças, escolas, ruas destruídas, todas
necessitando da participação comunitária em suas reconstruções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho estudou-se se a invisibilidade dos seres humanos poderia
ser uma causa de criminalidade. Verificou-se que essa questão é antiga e vem citada
inclusive nos textos bíblicos, analisou-se a questão da invisibilidade na sociedade atual,
e embora uma pessoa pertença a uma mesma classe social, ela é distinguida pela
estratificação, e conforme sua influência é tratado de forma diferente no meio onde vive,
verificou-se ainda que ao invés de educar, criou-se as cotas raciais, como justificativa de
inclusão.
Estudou-se também a criação de privilégios, sendo que os mesmos passam a ser
tantos, que se cria a impressão que tais privilégios sejam inerentes àqueles ocupantes
de determinados cargos, viu-se ainda como que um uniforme pode apagar a identidade
de uma pessoa, ou, conforme onde e como for usado, pode lhe dar notoriedade, sendo
motivos de infortúnio para alguns ou de glória para outros, verificou-se também que
quanto pior a situação financeira da pessoa é um fato que a empurra para a delinquência,
não obrigatoriamente a fazendo delinquir.
Buscou-se formas de incluir os excluídos e foi na educação que se encontrou a
melhor forma, não só na educação dada nas escolas, mas em todas as educações, pois
viu-se que o único patrimônio que o excluído tem, é seu corpo e suas habilidades e que
através do aprendizado é que a pessoa adquire status. Verificou-se ainda que a inclusão
se faz também por referências, quer sejam familiares, políticas ou sociais. Enfim
aprendeu-se que a pessoa não destrói aquilo que ela constrói.
Enfim verificou-se que na busca para ser visto, a pessoa humana, pode pender
para o lado do bem, ou do crime, dependendo de sua estrutura familiar, ou social, não se
vislumbrou que a falta de visibilidade seja por si só uma causa de criminalidade, podendo
ser um fator, e que a maneira de se incluir é pela educação.

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